cartas para plutão
antigas



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Querido A.,

acho que você nem imagina quanto eu sinto a sua falta. Ou talvez imagine sim, você sempre imaginou tudo muito bem de mim, não seria diferente agora. Ou será que seria? Tenho tanto medo de ter sido esquecida, assumo.

Escrevo hoje porque hoje passei em frente à sua casa e pensei em saltar do ônbius, dizer oi, pedir para interfonar, comprar bombons meio velhos naquela padaria e deixar para você, perguntar como está tudo, sonhar com uma resposta pouco vaga pela primeira vez. Pensei em fazer várias coisas diferentes, tirei o meu celular do bolso, cliquei no seu nome, mas não tive coragem, achei que você poderia estar ocupado, que não ia querer falar comigo numa sexta-feira boba de fim de mês. Não liguei e não saltei, segui.

Aliás, sigo, em todos os sentidos.

Tantas coisas aconteceram e eu não pude contar. Não pude ou não quis, talvez, tive medo, confesso. Não falarei delas por essa carta também, não teria o menor sentido (e eu estou tentando fazer algum, ultimamente), mas sei que você questionaria a minha capacidade de esquecer.

As minhas feridas cicatrizam rápido, o que eu posso fazer? Não é porque eu não sofro o suficiente, não é porque eu fujo delas, você sabe disso, elas simplesmente fecham. Umas, claro, deixam uma marca profunda, algumas deixam cicatrizes no rosto, para que eu me lembre delas todo dia, antes de ver o sol, mas, de qualquer forma, estão fechadas. Atualmente, todas. Não adianta eu continuar colocando band-aid se não há mais o que curar. Você estaria sorrindo agora, se eu estivesse na sua frente, com uma cara de quem não está acreditando em mim, provavelmente.

Mas eu também não acredito no amor que você quis me ensinar, não acredito no amor dos outros, talvez eu não saiba mesmo recepcioná-lo, não adianta, não desce. Acredito no meu, porém. Serve?

Quero que você fique orgulhoso por duas coisas: tenho dado o devido valor às pessoas e cortei o mal pela raiz. Acho que são dois crescimentos, são duas atitudes diferentes das que eu tinha quando entrei na sua sala pela primeira vez - e, vai, isso já é alguma coisa. Agora eu não falo mais quando não há o que dizer, agora eu me calo e observo, como eu sempre gostei de fazer, não me sinto mais obrigada a corresponder às expectativas alheias.

Sinto falta das orquídeas, do sofá confortável, da minha mochila do meu lado esquerdo, do seu olhar carinhoso sempre, da sua paciência infinita, da foto já antiga da janela com flores e das risadas gostosas.

Um dia eu volto, prometo.
Sua,
F.