cartas para plutão |
Ei, eu gostei de você. Assim, muito. Acho importante reforçar essa idéia, agora que só restam migalhas de sentimentos podres, acho importante dizer que amei sim, que fui feliz, que houve sorrisos - e muitos. Só duvido da sua culpa, acho que foi culpa minha, eu que sorri, os dentes mostrados foram os meus, a alegria era minha, eu que senti tudo de bom que tinha pra sentir, não foi? Foi. A dor, não. A dor foi você quem me deu quando saiu porta afora, quando disse que não conseguia mais me agüentar, que a minha alegria te fazia mal, que eu vivia numa bolha e que eu precisava crescer. A dor foi você quem fez nascer quando disse que eu tinha que crescer logo, deixar de ser esse menino pouco, esse menino sem jeito de homem. E eu que pensei que você gostava exatamente disso. Enfim, não quero passar por tudo isso de novo, já te disse várias e várias coisas, já abri e fechei e abri de novo várias feridas dentro de você, não quero repetir o meu erro e nem posso. Só queria mesmo reforçar a idéia de que eu te amei muito. E que, ainda que tudo isso eu tenha feito sozinho, eu quis te dar coisas boas, te fazer mostrar os dentes. Desculpa se eu não fui homem suficiente para pular o seu muro de lamentações e te mostrar o mundo lindo que tem aqui fora. Desculpa por ser irremediavelmente um menino. Ainda teu (de alguma forma), João.
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