cartas para plutão
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Quando foi que você decidiu que não ia me amar?

Eu fico pensando nisso às vezes, fico querendo entender quando foi que você optou por isso, quando foi que eu fiz qualquer coisa que despertou essa necessidade de não gostar de mim dentro de você.

Quando eu cheguei as coisas começaram a dar errado? Eu não sei dizer, ninguém nunca me contou de verdade o que aconteceu, como foi, o que tinha no seu rosto quando você me viu pela primeira vez. Eu não consigo me lembrar. Eu sei que você voltou. E eu sei também que dizem que foi por minha causa, mas foi mesmo? Você queria voltar? Eu acho que não. Você gostou do meu rosto? Gostou de ver que eu tinha coisas suas também?

E eu fico aqui tentando achar qualquer coisa que eu já tenha feito que tenha te machucado, qualquer palavra que eu tenha dito, qualquer gesto brusco, qualquer tapa mais forte, fico tentando achar um pedaço (mínimo que seja) de culpa minha, para ver se eu conserto o meu erro e se você volta a gostar de mim.

Volta?

O maior sufocamento é não ter certeza se isso já existiu.

Mas essa minha vontade só vem vezenquando, só vem quando eu olho pros seus olhos e encontro essa tristeza em formato de pedra que você não deixa ninguém quebrar. A minha vontade de achar uma culpa minha só surge quando eu olho pra você e enxergo tudo o que eu não deveria enxergar, quando eu percebo que está tudo ao contrário, que não deveria ser assim.

Eu tento ignorar essas verdades, durante a maior parte dos dias.

Só que, à noite, fica tudo mais difícil, fica tudo mais vazio, o silêncio empurra as dores pra superfície, todos os seus nãos doem mais e eu volto a me perguntar: quando foi que você decidiu que não ia me amar?

Responde, vai. Deixa eu saber o exato momento em que minha vida começou a parecer essa nuvem carregada de uma chuva que nunca vai cair, me dá ao menos esse direito.

Não vai te custar nada,
F.