cartas para plutão
antigas

para o ano velho
pra você gostar de mim
para mudar o lugar das grades
para carinho
para uma flor murcha
para melhores amigas
para um doutor



cannothelp@gmail.com

C.,

presta atenção.

Vem aqui. Não, aí não. Aqui. Vem aqui, senta do meu lado uma única vez e escuta. Escuta, vai.
Não não, não vou falar que a culpa é sua.

A culpa é minha. Fui eu que parei de acreditar nas coisas reais, no amor real, no tangível, no que eu vivi. Eu parei de acreditar em tudo isso pra gostar (mais ainda) do platônico, do impossível, do que não tem jeito mesmo, do que não presta pra mim. Mas eu insisto.

Não. A culpa não é sua de não gostar de mim. De não se interessar por mim. De me achar bobo e óbvio. Mongo. A culpa é minha de ligar pro que você pensa.

Mas escuta só uma coisa- você não sabe a chance que você tá perdendo. Eu sou um cara legal, sabia. Eu gosto de coisas legais, eu já li livros de gente legal, eu ouço bandas legais, eu tenho amigos legais, eu vou a lugares legais, eu compro roupas legais. Em suma, eu sou legal pra caralho. Eu acho até que eu sou o cara mais legal que você já conheceu.

E você aí, olhando pro lado, fingindo que não me vê.

Eu não sou brilhante. Eu não consigo resolver problemas difíceis de Física, nunca entendi as leis de Keppler, nunca fui além de algumas ligações do carbono na Química e nem sei bem se ainda sei contar. Faz tanto tempo.

Mas eu podia mesmo consertar tua vida dessa vez. Podia fazer você perceber que não é tão ruim assim ser gay. Que não dói tanto assim arrancar essa carapuça de gente forte, de gente acima de tudo e ir viver. Eu podia mesmo te contar que você é lindo do jeito que é, que não importa o que te disseram na infância, que eu gosto do seu cabelo bagunçado, que você não precisa se afastar do mundo pra ser feliz. Eu podia tanto.

Mas você não deixa nada. Nunca.

Acho que enchi o saco,
G.




*Ou quase isso.